Pesca
fantasma ameaça quase 70 mil animais marinhos por dia no Brasil
No Brasil, a pesca fantasma –
caracterizada pela perda ou descarte nos mares de equipamentos de pesca, como
redes, linhas e armações – ocorre em 70% da costa brasileira (12 dos 17 estados
costeiros). De acordo com o relatório “Maré Fantasma – Situação atual, desafios
e soluções para a pesca fantasma no Brasil”, estima-se que até 69 mil animais
marinhos sofram os impactos dessa pesca por dia, que incluem prejuízos ao
ecossistema, ferimentos, mutilações, emaranhamento, sufocamentos e até a morte.
O documento foi apresentado esta semana
pela organização não governamental Proteção Animal Mundial no evento “Oceano
Plástico: como escapar desse emaranhado?”, promovido em parceria com a ONU Meio
Ambiente, na capital paulista.
No mundo, o volume de equipamentos de
pesca largados nos oceanos por ano chega a 640 mil toneladas. No Brasil, o estudo
estima que cerca de 580 quilos desses materiais sejam abandonados ou perdidos
nos mares por dia, inclusive em áreas de proteção ambiental, como unidades de
conservação. Entre os animais afetados pela pesca fantasma estão baleias,
tartarugas marinhas, toninhas, tubarões, raias, garoupas, pinguins,
caranguejos, lagostas e aves costeiras.
“Esse relatório é um primeiro diagnóstico
nacional da pesca fantasma, que reúne todas as informações disponíveis e, de
alguma forma, compila essas informações. Temos agora condições de, pelo menos,
ter um ponto de partida para desenvolver as atividades para que a agenda de
pesca fantasma se torne mais ativa nas instituições e que o problema seja
reduzido daqui para frente”, disse João Almeida, gerente de Vida Silvestre da Proteção
Animal Mundial.
Para Almeida, uma ação importante para o
combate à pesca fantasma é a intensificação de ações de fiscalização do
ambiente marinho pelo governo brasileiro. “O ambiente marinho fica muito
abandonado de cuidado e, se o indivíduo decide pelo descarte irresponsável de
uma rede de pesca, nada acontece com”, disse. Além disso, ele destacou a
importância da realização de mais campanhas de conscientização ambiental e da
aplicação de mecanismos de localização dos equipamentos de pesca.
“Uma sugestão é que, na fabricação das
redes de pesca, os materiais já sejam feitos com campo para identificação do
proprietário e também para usar marcadores GPS nos equipamentos para, no caso
de haver uma perda, por manejo irresponsável ou por situação de mar virado,
seja mais fácil localizar esses materiais para retirada”, disse.
A gerente de campanha da ONU Meio
Ambiente, Fernanda Daltro, acredita que é muito urgente que o setor de pesca,
tanto artesanal quanto industrial, se reúna e discuta formas mais sustentáveis
para desenvolver sua atividade. Ela ressaltou a importância do Plano Nacional
de Combate do Lixo Marinho, que está sendo desenvolvido pelo governo federal e
com conclusão prevista para junho do ano que vem. O plano está aberto a
recebimento de sugestões por meio de consulta pública, aberta até 8 de janeiro.
“O plano nacional é o arcabouço
institucional sob o qual todas as outras ações de governo vão estar encaixadas
e as ações da sociedade como um todo também. Acreditamos que esse é o
instrumento mais importante porque pode agregar as atividades da sociedade, de
todos os setores, que impactam o problema do lixo no mar. Então ele é o
instrumento mais importante do país para tratar dessa questão”, avaliou.
Para ela, o cenário de poluição do oceano,
especialmente por plástico, é preocupante. “Até 2050, em peso, haverá mais
plástico do que peixe nos oceanos. Hoje em dia você tem uma proporção de peixe
em toneladas, de peso estimado, muito maior do que plástico, mas até 2050 essa
proporção vai se inverter. Depositamos 8 milhões de toneladas de plástico por
ano nos oceanos”, alertou.
Fernanda avalia que é importante que a
sociedade reveja costumes e hábitos, o que se produz e consome, além de avaliar
também o gerenciamento de resíduos sólidos em terra para que não cheguem ao mar.
Fonte: Agência Brasil
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