Estudo
mostra que vulcões fertilizam e regeneram a vida do oceano
Vida
marinha se recuperou em três anos após erupção do vulcão Tagoro
Publicado em
07/10/2021 - 06:29 Por Carla Quirino - Repórter da RTP - Lisboa
A lava
incandescente tem efeito devastador de imediato, mas em médio prazo revela-se
um fertilizante no mar. Um estudo concluiu que a vida marinha se recuperou em
três anos, após a erupção do vulcão Tagoro, nas Ilhas Canárias. A lava e os
gases libertaram nutrientes que favoreceram o aumento de fitoplâncton
(micro-organismos aquáticos), atraindo mais peixes, crustáceos e cefalópodes,
como polvos e lulas.
O vulcão
Tagoro, que entrou em erupção debaixo de água perto da ilha de El Hierro,
vizinha de La Palma, em outubro de 2011, foi o objeto de estudo do Instituto
Espanhol de Oceanografia e da Universidade de Las Palmas, em Gran Canaria.
Tagoro
Tagoro
permaneceu em atividade quase seis meses, o que causou alterações na
temperatura, acidez e composição química da água do Mar de las Calmas. A vida
marinha existente nesse recanto do Atlântico e que atraía os adeptos do
mergulho foi exterminada.
O vulcão
subaquático matou os peixes após a erupção, conforme a temperatura da água
subiu e os níveis de oxigênio caíram.
As
investigações, que se concentraram à volta da cratera, revelaram que a área
fora do raio de 200 metros da chaminé vulcânica, estava repleta de vida, ao fim
de três anos após a erupção.
"A lava é
rica em ferro, além de magnésio e silicatos, e isso fornece nutrientes para a
água", diz Carolina Santana González, oceanógrafa da Universidade de Las
Palmas, em Gran Canaria, citada no The Guardian.
Além de
registar um aumento de fitoplâncton, havia também peixes adultos, lulas e
polvos, mas os cientistas lembram que se perdeu biodiversidade.
"Isso
acontece quase imediatamente. A lava fertiliza a água e a área se recupera em
curto espaço de tempo. No caso da ilha de El Hierro, a vida marinha
restaurou-se quase completamente em três anos", afirmou Carolina González.
"É como
um incêndio florestal. Ele destrói tudo, mas ao mesmo tempo fornece nutrientes
para um novo crescimento. A diferença é que a vida marinha se recupera muito
mais rápido do que uma floresta", acrescentou.
Em El Hierro,
as análises químicas perto do cone do vulcão demonstraram que a concentração de
ferro era quase 30 vezes maior que o nível normal.
As águas ao
redor do vulcão também eram ricas em dióxido de carbono, que diminui os níveis
de pH e, assim, ajuda os micro-organismos a absorver o ferro, diz o estudo.
Embora o ferro
oxide na água e se forme em outros compostos, a baixa atividade vulcânica
existente em El Hierro manteve a emissão desse nutriente.
Os cientistas
também destacam o fenômeno que ocorre quando a lava empurra a água do fundo do
mar, rica em nutrientes, para a superfície, facilitando a difusão desses
nutrientes.
"Não
podemos parar a natureza, mas a natureza possui mecanismos de regeneração
rápidos e eficazes", diz Eugenio Fraile Nuez, responsável pelo
monitoramento do vulcão La Palma, do navio do Instituto de Oceanografia
atracado ao largo da costa onde a lava está caindo no mar.
"É por
isso que não é uma catástrofe ambiental, mas muito pelo contrário: vulcões são
vida", afirma.
Cumbre
Vieja
Em La Palma, a
lava está a cerca de 8 quilômetros de uma reserva marinha que cobre cerca de
3.500 hectares de mar. É o abrigo de anêmonas tropicais, douradas, algas
castanhas, lagostas e tartarugas marinhas.
Durante as
erupções do Cumbre Vieja, a lava já cobriu mais de 30 hectares de fundo de mar,
até a profundidade de 24 metros, duplicando o tamanho da península criada
recentemente na ilha.
Assim que o
vulcão se estabilizar, em terra o quadro será sombrio. A lava destruiu 855
edifícios, tornou centenas de hectares de terra inutilizáveis, enterrou mais de
27 quilômetros de estrada, e cerca de 20% das plantações de banana se perderam.
Mas, ao contrário da renovação em terra, que será mais lenta, a vida no mar é
promissora.
Os seis anos
de investigação das consequências da erupção do El Hierro podem dar pistas para
entender como a crise climática pode afetar os oceanos, diz Carolina González.
Nesse
contexto, a cientista lembra que "a maior ameaça à vida marinha da ilha
não é o vulcão, mas a atividade humana. O verdadeiro problema é a pesca
excessiva".
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