Brasil é o maior exportador de comida halal no mundo
Conceito norteia alimentação de muçulmanos em todo o mundo
Publicado em 05/10/2021 - 07:48 Por Vitor Abdala* - Enviado
especial - Dubai
Halal é uma palavra árabe que significa lícito, permitido.
Mais do que isso, é um conceito que permeia a alimentação e o uso de produtos
cosméticos e farmacêuticos por muçulmanos em todo o mundo. Pela sharia, o
código de leis islâmico, os seguidores da fé de Maomé só podem consumir
produtos que se encaixem nessa categoria porque seriam aqueles permitidos por
Deus.
No judaísmo, há uma categoria semelhante: o kosher. Um
exemplo é a proibição de consumo de carne de porco, de álcool etílico, sangue e
animais de presas longas, considerados haram, ou seja, não permitidos. As
carnes de boi, frango, caprinos e ovinos podem ser consumidas, desde que o
abate seja feito de forma adequada, em um ritual halal.
A restrição é ligada não apenas a esses itens, mas a qualquer
produto que contenha esses ingredientes em sua composição ou que tenha contato
com eles. Um carimbo usado em uma carne, por exemplo, não pode ter glicerina de
origem suína.
Como isso é levado muito a sério pelos muçulmanos, é
preciso garantir que os produtos consumidos realmente tenham sido processados
da forma correta. Por isso, as empresas interessadas em servir ao consumidor
islâmico precisam ser certificadas.
“Hoje, 1,9 bilhão de consumidores no mundo são muçulmanos.
E as estimativas para 2060 é que uma, em cada três pessoas, seja muçulmana.
Então você tem um mercado gigantesco, um potencial enorme a ser explorado. Além
disso, os consumidores muçulmanos são muito fiéis. Uma vez que eles identificam
uma marca certificada, que traz um produto de qualidade, acabam se fidelizando
àquela marca”, explica Elaine Franco de Carvalho, coordenadora de qualidade da
Fambras Halal, uma das principais certificadoras halal do Brasil.
É um mercado concentrado não apenas no Oriente Médio e
norte da África, mas também em países como o próprio Brasil. Na Indonésia, por
exemplo, que tem grande população muçulmana e é o maior mercado consumidor de
comida halal, a certificação é obrigatória para os exportadores.
“Uma vez que a empresa estiver certificada, ela vai atender
a alguns países que antes ela não atendia, por ter a certificação halal como
requisito [para exportação] ou por ter a certificação halal com diferencial”,
afirma Elaine.
Segundo dados do último Relatório Global do Estado da
Economia Islâmica, antes da pandemia o Brasil era o maior exportador mundial de
comida halal. Em 2019, o país exportou US$ 16,2 bilhões nesse tipo de produto,
12% a mais do que o segundo colocado, a Índia, que negociou US$ 4,4 bilhões.
Certificação
Segundo Elaine, o processo de certificação envolve
inicialmente uma avaliação documental da empresa, na qual se verifica, por
exemplo, os ingredientes e materiais usados na fabricação ou beneficiamento do
produto e sua origem. “A gente precisa garantir que se aquela empresa usa uma
queratina de origem animal, por exemplo, que ela tenha vindo de um animal
abatido de acordo com o ritual islâmico”, conta.
A certificadora, então, envia um auditor com conhecimentos
técnicos na área de atuação da empresa (que pode ser um veterinário, um
engenheiro agrônomo entre outros) e autoridades religiosas para verificar se
tudo é feito dentro dos preceitos do islamismo.
No caso do abate bovino, por exemplo, Elaine explica que é
preciso que tudo seja feito de acordo com um ritual, que começa com a
declamação das palavras Bismillah, Allahu Akbar (“em nome de Deus, Deus é o
maior”) e termina com a drenagem do sangue do animal por três minutos.
A faca deve ser bem afiada para seccionar as principais
artérias do pescoço em único corte e garantir a morte instantânea do animal. “É
um requisito do abate halal que você minimize o sofrimento do animal”, diz
Elaine.
O abate deve ser feito por um muçulmano, mas se não houver
ninguém disponível, poderá ser executado por um judeu ou um cristão. Já o
supervisor do abate precisa ser um seguidor do Islã.
Depois de aprovada, a empresa pode receber uma certificação
para todos os lotes de seu produto, com validade de três anos, ou pode receber
certificações por lotes. Cerca de 450 empresas brasileiras são certificadas
apenas pela Fambras Halal.
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