FAO: pandemia levou 118 milhões de pessoas a
passar fome em 2020
Combate à desnutrição e má nutrição também é
desafio, diz relatório
Publicado em 12/07/2021 - 15:28 Por Luciano Nascimento –
Repórter da Agência Brasil - Brasília
A pandemia de covid-19 contribuiu para o agravamento da
fome em todo o mundo. É o que aponta o relatório anual O Estado da Segurança
Alimentar e Nutrição no Mundo, divulgado hoje (12) pela Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). De acordo com o estudo, em
2020, entre 720 milhões e 811 milhões de pessoas passaram fome em todo o mundo.
Segundo o documento, desse total, mais de 118 milhões de pessoas começaram a
passar fome no ano passado em razão da pandemia.
O relatório informa que, entre as pessoas que começaram a
passar fome no ano passado, 14 milhões vivem na América Latina e no Caribe. Na
África, o número dos que começaram a passar fome aumentou em 46 milhões em
relação ao observado em 2019. Na Ásia, foram 57 milhões de pessoas a mais em
comparação com o apurado em 2019.
O combate à desnutrição e à má nutrição, em todas as suas
formas, continua sendo um desafio, diz o estudo da FAO, ao informar que, em
todo o mundo, cerca de 30% das mulheres de 15 a 49 anos padecem de anemia e que
a maioria das crianças desnutridas com menos de 5 anos vive na África e na
Ásia. Essas regiões são o lar de nove em cada 10 crianças com atraso de
crescimento, nove em cada 10 com peso abaixo do previsto para a idade e de sete
em cada 10 com excesso de peso. A maioria das crianças desnutridas vive em
países afetados por múltiplos fatores, como conflitos internos, desastres
ambientais, crises econômicas, destaca o relatório.
O estudo da FAO ressalta ainda que o número de pessoas subalimentadas
está aumentando, o progresso em relação ao atraso do crescimento infantil
diminuiu e o sobrepeso e a obesidade em adultos aumentaram tanto nos países
ricos quanto nos países pobres. O documento diz também que a situação poderia
ter sido pior se diversos países não tivessem adotado medidas de proteção
social, como o pagamento de auxílio emergencial.
“O efeito da pandemia covid-19 em 2020 ainda não pode ser
totalmente quantificado, mas estamos preocupados que muitos milhões de crianças
menores de 5 anos tenham sido afetadas por nanismo (149,2 milhões),
definhamento (45,4 milhões) ou acima de peso (38,9 milhões). A desnutrição
infantil continua a ser um problema, especialmente na África e na Ásia. A
obesidade em adultos continua a aumentar, sem sinais de mudança de tendência
global ou regional”, diz o documento da FAO. De acordo com o relatório, o
esforço para erradicar a desnutrição em todas as suas formas foi prejudicado,
inclusive em razão dos efeitos negativos sobre os hábitos alimentares durante a
pandemia.
“Em termos de saúde, a interação entre a pandemia, a
obesidade e as doenças não transmissíveis relacionadas à alimentação mostrou
que é urgente garantir o acesso a dietas saudáveis e acessíveis para todos”,
diz o relatório.
Elaborado em conjunto com o Fundo Internacional de
Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef), Programa Alimentar Mundial (PAM) e a Organização Mundial da Saúde
(OMS), o documento alerta ainda para o fato de que, com base na tendência
atual, o mundo não deve cumprir a meta de acabar com a fome até 2030. De acordo
o relatório, a fome mundial diminuirá lentamente para menos de 660 milhões em
2030. O número, entretanto, é superior em 30 milhões a mais de pessoas do que o
esperado até 2030, o que aponta para a existência de efeitos duradouros da
pandemia na segurança alimentar do mundo.
Para combater esse cenário, a FAO diz que os governos
devem, entre outros pontos, fortalecer a capacidade econômica das populações
mais vulneráveis; promover intervenções ao longo das cadeias de abastecimento
de alimentos para reduzir o custo de alimentos nutritivos; combater a pobreza e
as desigualdades estruturais; fortalecer os ambientes alimentares e promover
mudanças no comportamento do consumidor para a promoção de hábitos alimentares
com efeitos positivos na saúde humana e no meio ambiente; além de investir na
integração de políticas humanitárias, de desenvolvimento e construção da paz em
áreas afetadas por conflitos.
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