Trabalho
infantil no mundo aumenta pela primeira vez em 20 anos
Dados são
de relatório da OIT e do Unicef divulgado hoje
Publicado em
10/06/2021 - 08:04 Por RTP – Lisboa
O número de
crianças vítimas de trabalho infantil aumentou pela primeira vez em 20 anos,
atingindo 160 milhões no mundo, anunciaram hoje (10) a Organização
Internacional do Trabalho (OIT) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef).
No relatório
Trabalho Infantil: estimativas globais de 2020, tendências e o caminho a
seguir, divulgado pelas duas instituições por ocasião do Dia Mundial contra o
Trabalho Infantil, celebrado em 12 de junho, destaca-se a necessidade de
medidas para combater a prática, que poderá ser agravada pela pandemia.
O documento
destaca que, pela primeira vez em 20 anos, a evolução da erradicação do
trabalho infantil "inverteu o sentido", contrariando a tendência de
queda registrada entre 2000 e 2016, período em que houve redução de pelo menos
94 milhões de crianças no mundo do trabalho.
Nos últimos
quatro anos, esse aumento foi de 8,4 milhões de pessoas, diz o relatório
divulgado nessa quinta-feira. "Cerca de 9 milhões a mais de crianças estão
em risco devido aos efeitos da covid-19" até o fim de 2022, e "esse
número poderá aumentar para 46 milhões, caso não venham a ter acesso a medidas
de proteção social essenciais".
"Novas
crises econômicas e o fechamento de escolas, devido à covid-19, podem
significar que as crianças trabalham mais horas, ou em condições agravadas,
enquanto muitas outras podem ser forçadas às piores formas de trabalho
infantil, devido à perda de emprego e rendimento em famílias vulneráveis",
alerta o documento.
Citada em um
comunicado, a diretora executiva do Unicef, Henrietta Fore, lembrou que o mundo
terreno na luta contra o trabalho infantil e que 2020 não facilitou esse
trabalho.
Henrietta
defendeu a importância de se investir em programas que desestimulem o trabalho
infantil, num momento em que o fechamento de escolas, as crises econômicas e os
ajustes nos orçamentos nacionais podem forçar as famílias "a tomar
decisões muito drásticas".
"Apelamos
aos governos e os bancos internacionais de desenvolvimento para que priorizem
os investimentos em programas que permitam que as crianças saiam do mercado de
trabalho e regressem à escola, além de apostarem em programas de proteção
social que evitem que as famílias tenham de recorrer ao trabalho
infantil".
O relatório
mostra ainda um aumento substancial no número de crianças, entre os 5 e os 11
anos, que trabalham e que representam mais de metade de todos os casos de
trabalho infantil no mundo.
O número de
crianças com idade entre 5 e 17 anos, envolvidas em trabalhos perigoso,
atividades laborais que podem prejudicar a sua saúde, segurança física ou
desenvolvimento cognitivo, aumentou 6,5 milhões desde 2016, situando-se
atualmente em 79 milhões, acrescenta.
A publicação
indica que 70% dos casos de trabalho infantil, o equivalente a 112 milhões de crianças,
ocorrem no setor agrícola, 20%, o correspondente a 31,4 milhões de menores, nos
serviços, e 10%, 16,5 milhões de crianças, na indústria.
O trabalho
infantil nas áreas rurais (14%) é quase três vezes superior quando comparado
com as áreas urbanas (5%).
"Quase
28% das crianças com idade entre 5 e 11 anos e 35% das crianças entre 12 e 14
anos que trabalham não frequentam a escola", observa o relatório,
acrescentando que há maior maior incidência de meninos no trabalho infantil,
atenuando-se essa disparidade quando se considera o trabalho doméstico.
O
diretor-geral da OIT, Guy Ryder, declarou, citado no mesmo comunicado, que
essas novas estimativas "são um alerta" e apelou para que se
intervenha, para não ser posta em risco "toda uma nova geração de crianças".
"A
proteção social inclusiva permite que as famílias mantenham seus filhos na
escola, mesmo em situação econômica adversa. O aumento do investimento é
essencial para promover o desenvolvimento rural e o trabalho decente no setor
agrícola", disse Ryder.
"Estamos
num momento crucial, os resultados alcançados vão depender, em grande parte,
das medidas que tomarmos" e é necessário reiterar o compromisso e a
vontade "para reverter essa situação e interromper o ciclo da pobreza e do
trabalho infantil", pediu Guy Ryder.
O relatório
adverte que "o trabalho infantil compromete a educação das crianças,
restringe os seus direitos, limita as suas oportunidades futuras e contribui
para a manutenção de ciclos de pobreza viciosos.
Além do
aumento dos gastos com educação e a facilitação do regresso das crianças à
escola, a OIT e o Unicef defendem a promoção do trabalho digno para adultos, de
modo que as famílias não tenham que recorrer à ajuda dos filhos para gerar
rendimento em casa.
As informações
divulgadas pelas duas instituições baseiam-se em dados de 106 pesquisas que
cobrem mais de 70% da população mundial de crianças entre 5 e 17 anos.
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