Trabalho
infantil atingiu 1,8 milhão de pessoas em 2019, mostra estudo
Número caiu
em relação a 2018, quando total chegou a 2,2 milhões
Publicado em
21/06/2021 - 16:07 Por Flávia Albuquerque – Repórter da Agência Brasil - São
Paulo
Um
levantamento feito pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho
Infantil (FNPETI) mostrou que em 2019 havia 1,8 milhão de crianças e
adolescentes em trabalho infantil, número 4,8% menor do que no ano de 2018.
Desse total, 704 mil (38,4%) exerciam algumas das piores formas de trabalho
infantil.
Os dados do
estudo O Trabalho Infantil no Brasil: Análise dos Microdados da PnadC 2019,
divulgados hoje (21) pelo FNPETI, mostram que 1,206 milhão eram meninos e 626
mil, meninas e que 1,202 milhão eram negros e 630 mil, eram brancos.
Em um recorte
pela faixa etária, os dados indicam que a maioria tinha 16 e 17 anos, 448
tinham 14 e 15 anos, e 285 tinham de 10 a 13 anos. As regiões do país onde mais
havia crianças e adolescentes trabalhando foi o Sudeste, seguido do Nordeste,
Sul, Norte e Centro-Oeste.
Do total de
crianças e adolescentes em trabalho infantil em 2019, 866 mil não eram
remunerados ou trabalhavam para consumo próprio. Entre as principais ocupações
(o que é feito no trabalho) aparecem os balconistas (6%), trabalhadores rurais
(4,9%), escriturários (4,9%), cuidadores de crianças (3,8%), trabalhadores
qualificados da agricultura (3,5%) e demais ocupações (76,7%). A maioria (734
mil) era empregada sem carteira assinada.
Com relação à
atividade do estabelecimento onde trabalham 5,5% são comércios de alimentos,
bebidas e fumo, 5,2% são restaurantes, 5,1% serviços domésticos, 4,9% criação
de bovinos, 4,6% manufaturamento e reparo de veículos e 74,8% em demais
atividades. Segundo o levantamento, 807 mil eram empregados em estabelecimentos
de serviços e 507 mil em estabelecimentos de agricultura.
"Se esse
problema não for resolvido, o Brasil não vai ser considerado um país desenvolvido.
Como a causa principal do trabalho infantil é a pobreza e o Brasil é um país de
extrema desigualdade, com muitas pessoas pobres, significa que existe um alto
contingente populacional em situação vulnerável economicamente, socialmente,
culturalmente e educacionalmente. Também quer dizer que o Estado brasileiro não
consegue cumprir todas as suas obrigações como estão estipuladas na
Constituição", disse o economista Claudio Fernandes.
Na avaliação
dele, se o país não cuida das crianças, elas se transformarão em adultos que
não conseguirão cuidar de si nem do país. Fernandes ressaltou ainda que essa
situação mostra desintegração do núcleo primário da sociedade: a família.
"A família necessita que suas crianças trabalhem em alguns casos. Em
outros, as crianças resolvem sair para conseguir sua independência porque
participam de uma situação de vulnerabilidade, de violência, abuso. Em outras
famílias elas são parte do processo de trabalho por conta da necessidade da
família em aferir maior renda".
Fernandes
disse anda que o trabalho infantil está atrelado a um problema estrutural do
país, a pobreza, para o qual há certa leniência e normalização por parte da
sociedade com relação à extrema desigualdade. "Isso passa pelo aspecto
político que é muito forte, e o privilégio de determinadas classes e setores
econômicos. Quando se privilegia alguns, automaticamente se desprivilegia
outros e aumenta essa desigualdade no país. A pobreza no Brasil é muito oriunda
desses privilégios da classe mais abastada e de maior poder
econômico".
Afazeres e
cuidados domésticos
Segundo o
estudo, do total de crianças e adolescentes brasileiros, que em 2019 era cerca
de 38 milhões na faixa etária de 5 a 17 anos, pelo menos 51,8% (19,8 milhões)
exerciam afazeres e cuidados domésticos. Em média 7,7 horas da semana eram
ocupadas pelos cuidados domésticos. Aquelas em trabalho infantil doméstico
dedicaram 18,3 horas por semana a esse tipo de ocupação. Em ambas as atividades
o total foi de 27,2 horas semanais. Isso significa que as crianças e
adolescentes trabalhadoras podem ter quase 50% do dia comprometido com trabalho
e afazeres
"Qualquer
atividade que seja imputada às crianças e adolescentes nesse estágio vai
concorrer com as outras atividades, principalmente com aquelas dedicadas à
formação. Esses trabalhos também oferecem uma série de riscos, tanto de doenças
e acidentes, quanto trazem dificuldades adicionais à formação. Para poder ir à
escola é preciso se deslocar e isso leva tempo, por isso um dos maiores
agravantes é o quanto se gasta com essas atividades, que podem comprometer até
50% do seu dia", analisou o economista coordenador da pesquisa, Guilherme
Silva Araújo.
Combate
Em entrevista
à Agência Brasil por ocasião do Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil,
celebrado em 12 de junho, o secretário nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente Mauricio Cunha disse que o Brasil assumiu o compromisso na ONU de
erradicar o trabalho infantil até 2025. Para cumprir essa meta, o Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH) tem atuado no fortalecimento do
Sistema de Garantia de Direitos como conselhos tutelares e na capacitação dos
profissionais que atuam nessa área como professores, assistentes sociais e
gestores públicos e de organizações sociais.
Denúncias
Qualquer
pessoa pode denunciar vítimas do abuso infantil pelo Disque 100 que conta agora
com números no WhatsApp e Telegram (basta apenas digitar “Direitoshumanosbrasilbot”
no aplicativo). Além desses canais, até o fim do mês de julho, um novo
aplicativo, com linguagem voltada especificamente para as crianças deverá ser
lançado.
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