Número de pessoas forçadas a se deslocar chegou a 82,4
milhões em 2020
É o maior número já registrado pela Acnur
Publicado em 18/06/2021 - 06:30 Por Ana Cristina Campos –
Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Apesar da pandemia de covid-19, o número de pessoas forçadas a se deslocar no mundo continua aumentando. No final de 2020, 82,4 milhões de pessoas estavam deslocadas por guerras, conflitos, violações de direitos humanos e perseguições.
É o maior número já registrado pela Agência das Nações
Unidas para Refugiados (Acnur), com aumento de 4% em relação a 2019, quando
79,5 milhões de pessoas estavam em deslocamento forçado. Mais de 1% da
população mundial - uma em cada 95 pessoas - estão neste momento em
deslocamento forçado.
Os dados constam do relatório Tendências Globais, que traz
informações sobre a situação dos deslocados e refugiados em todo o mundo
anualmente e foi divulgado hoje (18) pela Acnur. Segundo o levantamento, 2020 é
o nono ano de crescimento ininterrupto do deslocamento forçado no mundo.
Covid-19
O relatório mostra que durante o pico da pandemia em 2020,
mais de 160 países fecharam suas fronteiras, com 99 deles não fazendo qualquer
exceção para pessoas em busca de proteção internacional. Segundo a Acnur,
apesar da pandemia e dos pedidos de cessar-fogo, conflitos continuam a expulsar
pessoas de suas casas.
O porta-voz da Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho,
destacou que o fechamento das fronteiras por causa da crise sanitária teve como
efeito imediato o expressivo aumento de deslocados internos que fugiam não só
das guerras, mas também de regiões de seu país com altos índices de infecção.
“Essa combinação de conflito, crise sanitária global, perda
de renda e insegurança alimentar forçou as pessoas a se deslocarem dentro de
seu país”, disse Godinho, destacando que a covid-19 foi fator de deslocamento
interno em países como Iêmen, Bangladesh, Etiópia, Iraque e Djibouti.
De acordo com o porta-voz, a tendência para 2021 é de
aumento do deslocamento das pessoas, já que procedimentos de refúgio e asilo
devem voltar a funcionar com a maior liberalização das fronteiras
internacionais em meio ao avanço da vacinação.
Conforme o documento, são 48 milhões de deslocados dentro
do próprio país, 26,4 milhões de refugiados, 20,7 milhões de refugiados sob o
mandato da Acnur, 5,7 milhões de palestinos sob o mandato da agência UNRWA, 4,1
milhões de solicitantes de asilo e 3,9 milhões de venezuelanos que saíram do
país.
Devido a crises principalmente na Etiópia, no Sudão, nos
países do Sahel (região da África, situada entre o deserto do Saara e as terras
mais férteis na região equatorial do continente), em Moçambique, no Iêmen,
Afeganistão e na Colômbia, o número de deslocados internos cresceu em mais de
2,3 milhões de pessoas.
Ao longo de 2020, cerca de 3,2 milhões de deslocados
internos e apenas 251 mil refugiados retornaram para seus lares – uma queda de
40% e 21% respectivamente, se comparada com 2019. Outros 33.800 refugiados
foram naturalizados por seus países de acolhida.
Mais de dois terços de todos os refugiados e dos deslocados
vieram de apenas cinco países: Síria (6,7 milhões), Venezuela (4 milhões),
Afeganistão (2,6 milhões), Sudão do Sul (2,2 milhões) e Mianmar (1,1 milhão).
A maioria das pessoas refugiadas do mundo – quase nove em
cada dez (ou 86%) – está acolhida em países vizinhos às crises e que são de
renda baixa ou média. Os países menos desenvolvidos acolheram 27% desse total.
Pelo sétimo ano consecutivo, a Turquia abriga a maior população de refugiados no mundo (3,7 milhões de pessoas), seguida pela Colômbia (1,7 milhão, incluindo venezuelanos deslocados fora de seu país), o Paquistão (1,4 milhão), Uganda (1,4 milhão) e a Alemanha (1,2 milhão).
Meninas e meninos com até 18 anos de idade representam 42%
de todas as pessoas forçadas a se deslocar. Segundo a ONU, eles são
especialmente vulneráveis, ainda mais quando as crises perduram por muitos
anos. Novas estimativas da Acnur mostram que quase 1 milhão de crianças
nasceram como refugiadas entre 2018 e 2020. Muitas delas deverão permanecer
nessa condição nos próximos anos.
No Brasil, a publicação será oficialmente lançada hoje às
11h, em evento em parceria com o Memorial da América Latina que será
transmitido pelo canal do YouTube das duas instituições. A divulgação do
relatório é parte do calendário do Acnur Brasil para marcar o Dia Mundial do
Refugiado no país. A programação completa, com atividades artísticas, culturais
e debates virtuais com pessoas refugiadas, está disponível no site
https://www.acnur.org/portugues/diadorefugiado/.
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