Mudança
climática pode gerar mais perdas que covid-19, diz relatório
Alerta é
feito por especialistas em relatório da Oxfam
Publicado em
07/06/2021 - 11:38 Por RTP – Londres
A economia dos
países mais ricos vai encolher duas vezes mais do que na crise da covid-19, se
os governos não conseguirem lidar com o aumento das emissões de gases de efeito
estufa. De acordo com um novo relatório, divulgado esta segunda-feira pela
organização não governamental (ONG) Oxfam, as nações do G7 podem perder 8,5% do
seu Produto Interno Bruto (PIB) por ano até 2050.
O custo anual
para enfrentar os impactos da crise climática vai superar o custo econômico da
pandemia. Em 2050, as nações do G7 - o grupo dos países mais industrializados
do mundo - podem perder em média 8,5% do PIB a cada ano (o equivalente a US$
4,8 trilhões), ou seja, o dobro dos 4,2% atingidos pelas perdas econômicas
geradas pela covid-19, se as alterações climáticas continuarem sem ser
controladas ou revertidas.
As conclusões
foram divulgadas nesta segunda-feira (7) em novo relatório da Oxfam, baseado na
investigação do Swiss Re Institute.
"O mundo
pode perder cerca de 10% do valor econômico total em meados do século se as
alterações climáticas permanecerem na trajetória atualmente prevista e se o
Acordo de Paris e as metas de emissões líquidas zero para 2050 não forem
cumpridas", alerta o relatório.
Os
especialista acrescentam que os países do G7 podem ver as suas economias
encolherem duas vezes mais do que agora que enfrentam a pandemia, nos próximos
30 anos, se a temperatura global subir 2,6ºC. Entre os motivos estão as perdas
causadas pelo calor e a saúde das populações com as mudanças extremas da
temperatura, o aumento do nível do mar, as secas e inundações e a redução de
produtividade dos terrenos agrícolas, que podem impedir o crescimento econômico
dessas nações.
A economia do
Reino Unido, por exemplo, pode perder 6,5% ao ano até 2050 com as políticas e
projeções atuais, em comparação com os 2,4% se as metas do acordo climático de
Paris fossem cumpridas.
Mas há países
que serão ainda mais prejudicados, incluindo a Índia, cuja economia pode
encolher cerca de 25% devido ao aumento de temperatura. Também a Austrália vai
perder cerca de 12,5% da sua produção e a Coreia do Sul arrisca-se a perder
quase um décimo do seu potencial econômico.
Por essa
razão, a Oxfam apela ao G7 para que estabeleça novas metas climáticas na
preparação para a COP26. Os líderes dos países do G7 - Reino Unido, Estados
Unidos (EUA), Japão, Canadá, França, Alemanha, Itália - e a União Europeia (UE)
vão reunir-se, na Cornualha (Reino Unido), na próxima sexta-feira (11), para
debater a economia global, as vacinas contra a covid-19, os impostos sobre as
empresas e a crise climática.
"Economias
mais desenvolvidas não estão imunes"
De acordo com
os dados do documento, relativamente à exposição a "riscos climáticos
severos resultantes das alterações climáticas", o sudeste da Ásia e a
América Latina provavelmente serão "os mais suscetíveis a condições de
seca". Por outro lado, muitos países no norte e no leste da Europa, devem
sofrer mais impactos devido a chuvas intensas e inundações.
O Índice de
Economia do Clima, apresentado no relatório, indica que "muitas economias
avançadas no Hemisfério Norte são menos vulneráveis aos efeitos gerais das
alterações climáticas, estando menos expostas aos riscos associados e com
melhores recursos para lidar com isso". Os EUA, o Canadá e a Alemanha, por
exemplo, estão entre os dez países menos vulneráveis aos impactos da crise
climática, tanto em nível ambiental e de saúde da população quanto em nível
econômico. Portugal também aparece nos primeiros lugares como um dos países
menos vulnerável a impactos físicos das alterações climáticas.
Essas
descobertas, avisa a Oxfam, fazem sobressair a necessidade de as nações
reduzirem as emissões de carbono mais rapidamente.
"A crise
climática está devastando vidas nos países mais pobres, mas as economias mais
desenvolvidas do mundo não estão imunes", afirma no relatório o CEO da
Oxfam GB, Danny Sriskandarajah.
"O
governo do Reino Unido tem uma oportunidade única numa geração de liderar o
mundo em direção a um planeta mais seguro e habitável para todos",
acrescentou. "Deve forçar todos os tendões diplomáticos para garantir o
resultado mais forte possível no G7 e na COP26 e liderar pelo exemplo.,
transformando promessas em ações e revertendo decisões autodestrutivas, como a
proposta da mina de carvão em Cumbria e cortes na ajuda internacional".
Já Jerome
Haegeli, economista-chefe do grupo Swiss Re, considera que "as alterações
climáticas são o risco número um de longo prazo para a economia global, e ficar
onde estamos não é uma opção - precisamos de mais progresso por parte do
G7".
Isso significa
"não apenas obrigações de reduzir o CO2, mas também ajudar os países em
desenvolvimento".
Segundo
Haegeli, também a distribuição de vacinas contra a covid-19 é uma forma de
ajudar os países em desenvolvimento, "já que as suas economias foram
duramente atingidas pela pandemia e precisariam de ajuda para se recuperar num
caminho verde, em vez de aumentar os combustíveis fósseis".
A Swiss Re
concluiu que as políticas e as atuais promessas dos governos para reduzir as
emissões de gases de efeito estufa ainda são inadequadas para cumprir as metas
do acordo de Paris.
Países em
desenvolvimento e ambiente dependente de "ajuda internacional"
Antes da
COP26, o Reino Unido pede a todos os países para apresentarem promessas mais
duras sobre a redução das emissões de carbono, a fim de cumprir as metas de
Paris e de limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC.
Mas esse
limite está cada vez mais ameaçado, visto que as emissões de gases de efeito
estufa devem aumentar drasticamente este ano, para o segundo maior aumento já
registrado, devido à recuperação da recessão da covid-19 e ao aumento do uso de
carvão.
"O risco
climático é um risco sistêmico, que pode ser gerido por meio de uma ação
política global coordenada. Existe uma oportunidade única de tornar as nossas
economias mais verdes", afirmam os especialistas no relatório.
Contudo, a
ajuda internacional tem sido o principal obstáculo para muitos, e tem sido
descrita como um desastre diplomático já que o sucesso da COP26 dependerá, em
parte, de o Reino Unido conseguir persuadir outras nações ricas na cúpula do G7
a apresentarem promessas muito maiores de assistência financeira aos países em
desenvolvimento, de forma a ajudar os países pobres a reduzir suas emissões e a
lidar com os impactos da degradação do clima.
O país mais
afetado no G7 seria a Itália, que deve perder 11,4% do PIB a cada ano. Mas os
países em desenvolvimento seriam duramente atingidos, com a Índia sofrendo
perdas de 27% no PIB e as Filipinas, 35%.
O primeiro
Registro de Ameaças Ecológicas (ETR), do Instituto de Economia e Paz, alertou
também que a crise climática pode levar ao deslocamento de mais de 1,2 bilçhão
de pessoas até 2050, considerando as ameaças à sua sobrevivência como desastres
naturais, escassez de alimentos e água, criando novas tendências de migração.
Além disso, o Banco Mundial revelou, recentemente, que haverá entre 32 milhões
e 132 milhões de pessoas a mais vivendo em condições de pobreza extrema até
2030, devido ao aquecimento global.
O relatório da
Oxfam reitera ainda que os governos do G7 não estão cumprindo a promessa de
contribuir com US$ 100 bilhões para ajudar os países em desenvolvimento,
estimando-se que tenha entregado até agora apenas US$ 10 bilhões para projetos
e iniciativas de adaptação climática.
Atualmente,
apenas o Reino Unido e os EUA concordaram em aumentar o financiamento dos
níveis atuais. A França, por sua vez, pretende manter os níveis atuais de
financiamento climático, e o Canadá, a Alemanha, o Japão e a Itália ainda não
confirmaram se pretendem manter ou aumentar os investimentos verdes nos países
menos desenvolvidos.
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