Famílias de
renda mais baixa sofrem maior impacto da inflação em maio
É o que revela
pesquisa feita pelo Ipea
Publicado em
14/06/2021 - 12:30 Por Cristina Índio do Brasil – Repórter da Agência Brasil -
Rio de Janeiro
O Indicador
Ipea de Inflação por Faixa de Renda voltou a ter, em maio, elevação em todas as
classes de renda pesquisadas, mesmo com a desaceleração registrada em abril. As
mais atingidas foram as famílias de renda muito baixa, com renda domiciliar abaixo
de R$ 1.650,50.
Para esta
faixa, a inflação ficou em 0,92% em maio. Para as famílias de renda mais alta -
entre R$ 8.254,83 e R$ 16.509,66 - o percentual não passou de 0,49% no mesmo
período. Os dados foram divulgados hoje (14), no Rio de Janeiro, pelo Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A habitação e
os transportes foram os grupos que mais contribuíram para o avanço da inflação.
Os principais focos de pressão inflacionária da habitação foram os reajustes de
energia elétrica (5,4%), da tarifa de água e esgoto (1,6%), do gás de botijão
(1,2%) e do gás encanado (4,6%). Nos transportes, os aumentos da gasolina
(2,9%), do etanol (12,9%) e do gás veicular (23,8%) influenciaram o resultado.
A queda de
28,3% no preço das passagens aéreas reduziu o impacto dos reajustes dos
combustíveis para as famílias de renda mais elevada da população. O grupo saúde
e cuidados pessoais, com alta de 0,11% em maio, e de 0,10% nas de renda mais
baixa, também contribuiu para a alta da inflação. Dentro do grupo de saúde e
cuidados pessoais, enquanto as famílias com renda mais baixa enfrentaram alta
de 1,3% nos medicamentos, os mais ricos tiveram reajuste de 0,67% nos planos de
saúde.
Maria Andréia
Lameiras, autora do estudo e pesquisadora do Grupo de Conjuntura do Ipea, disse
que o resultado de maio veio maior, como já era esperado, por conta do reajuste
da energia elétrica que pesa muito para as famílias de renda mais baixa.
Além disso,
ainda houve alta nas taxas de água e esgoto, no gás encanado e botijão. “A gente
já sabia que isso ia pesar mais para as famílias de renda mais baixa. Fora
isso, houve um pouco do aumento de medicamentos que bateu de novo em maio. Isso
fez com que a inflação dos mais pobres ficasse bem mais alta do que a dos mais
ricos”, explicou em entrevista à Agência Brasil.
Interanual
De acordo com
o indicador, na comparação interanual, todas as classes de renda foram
atingidas por forte aceleração inflacionária. Segundo o Ipea, em maio de 2020,
a pandemia impactou um grupo de bens e serviços gerando quedas de preços
significativas, como a deflação na energia (-0,58%), combustíveis (-4,6%) e
medicamentos (-1,2%), além dos recuos de 3,2% dos móveis, 0,58% do vestuário e
0,37% dos serviços de recreação.
No acumulado
de janeiro a maio de 2021, tanto o segmento de renda mais baixa como o de renda
mais alta, ambos registraram inflação de 3%. As maiores taxas nos primeiros
cinco meses do ano, no entanto, foram notadas nas classes de renda média (3,5%)
e renda média baixa (3,4%).
Já no
acumulado em 12 meses, a inflação das famílias de renda muito baixa ficou em
8,9% e segue maior que a taxa inflacionária dos mais ricos (6,3%), ainda sob
efeito das altas de 15,4% dos alimentos no domicílio e de 11,6% da energia
elétrica. O reajuste de 47,5% dos combustíveis nos últimos 12 meses, para as
famílias com melhor poder aquisitivo, explica parte do aumento.
“Embora no ano
a inflação entre ricos e pobres esteja muito parecida em 3%, quando a gente
olha em 12 meses, a inflação dos mais pobres dá uma acelerada porque saiu da
conta maio do ano passado, que foi muito baixa, e entrou agora maio de 2021 que
foi muito alta. Então, em 12 meses a inflação das famílias de renda mais baixa
acabou dando um salto e bate em quase 9%, enquanto a do outro segmento está
girando em torno de 6%”, afirmou Maria Andréia.
Expectativa
Ela disse,
também, que em junho a inflação deve permanecer um pouco alta, como também na
de 12 meses porque ainda haverá impacto de preços administrados e pressão do
preço da carne sobre o índice, mantendo a influência na alimentação em
domicílio.
A situação
deve mudar a partir do segundo semestre,
quando são esperados dois movimentos diferentes. O primeiro é uma
desaceleração da inflação de 12 meses, porque haverá comparação com o segundo
semestre de 2020, que teve meses de inflação muito alta, em contraponto com o
que se espera das taxas que estão por vir no mesmo período de 2021, quando
devem ser mais baixas. “Então, essa conta de 12 meses vai desacelerar”,
completou.
O outro movimento,
segundo Maria Andréia, deve ter um ritmo um pouco mais rápido de desaceleração
da inflação para as famílias de renda mais baixa, porque é esperada para o
segundo semestre uma oferta maior de serviços. As famílias de renda mais alta é
que vão ter maior influência desse setor.
“A gente sabe
que os serviços batem mais na inflação dos mais ricos. Com a vacinação ganhando
força e a economia voltando a dar uma girada em velocidade maior, esses
serviços que foram tão afetados na pandemia como recreação, cuidados pessoais e
de lazer vão começar a dar uma pressionada e essa inflação de serviços está
ligada às famílias de renda mais alta. As taxas de 12 meses vão desacelerar,
mas a desaceleração dos mais ricos vai acabar sendo freada por este aumento da
inflação de serviços”, informou.
Nos 12 meses,
conforme a autora do estudo, ainda vão bater reajustes de preços administrados,
como o novo aumento de gás de botijão anunciado pela Petrobras na sexta-feira,
e a elevação dos valores de planos de saúde e de transporte público, que vão
pressionar todas as faixas, incluindo a alimentação, principalmente a carne.
“A tendência é
que ainda fique um tempo com alta de preços. A gente está esperando de uma
maneira geral um junho ainda forte, mas não tão forte quanto maio, gerando
alguma pressão sobre a inflação, mas a partir de julho realmente uma
desaceleração um pouco mais forte”, indicou.
Alimentos
Na visão da
pesquisadora, não deve se repetir este ano a pressão de alimentos ocorrida no
segundo semestre do ano passado, causada pela menor oferta influenciada pela
exportação, que atraiu os produtores com preços mais elevados no mercado
externo, e maior demanda que refletiu mais consumo de famílias mais pobres com
o auxílio emergencial.
“Mesmo sabendo
que tem problema de seca, pode ter alguma dificuldade em uma cultura ou outra,
ainda assim, esperamos que o preço dos alimentos vai puxar basicamente essa
inflação para baixo no segundo semestre de 2021, quando se compara com o mesmo
semestre de 2020”, disse, acrescentando que o câmbio mais baixo também está
ajudando a perspectiva de inflação para o segundo semestre.
Ela destacou,
ainda, que essa avaliação leva em conta o grande movimento de demanda interna e
internacional e os meses de pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, o que
gerou um aumento de demanda muito grande. “A gente sabe que o auxílio
emergencial foi usado para a compra de alimentos e um pouco também para
material de construção, mas o foco do auxílio foi a compra de alimentos. Esse
ano, além de ter uma safra um pouco melhor e uma produção interna mais segura
no mercado doméstico, estamos com um auxílio emergencial em valor bem menor,
então a pressão de demanda está menor”, finalizou.
Agência Brasil
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