Para conter a revolta, governo de São Paulo bombardeou a cidade em 1924. Estima-se entre 500 e 1000 mortes durante os dias de confronto. Foto: soldados carregam bateria Krupp 75mm (Arquivo Aparecido Salatini)
A Revolta que originou a Coluna Prestes
Um
levante em São Paulo contribuiu para mudar o destino político do país e, em
seus desdobramentos, gestou a liderança rebelde de uma das figuras mais
controversas da história brasileira, o líder comunista Luís Carlos Prestes.
Os
movimentos gerados com a Revolta de 1924 (considerado por historiadores o maior
conflito bélico já ocorrido na cidade de São Paulo), culminariam com a chegada
de Getúlio Vargas ao poder por meio de outra revolta, seis anos depois, pondo
fim à hegemonia política da época.
Entre
autores que trataram do assunto, está Lira Neto, autor da biografia
"Getúlio". Ele explica as relações entre a Revolta Paulista de 1924 e
a ascensão de Getúlio ao poder. Outro historiador, Carlos Romani, considera que
a "revolução", embora muito importante, foi pouco investigada.
Café com Leite
Em 1924,
o Brasil era governado pelo presidente mineiro Arthur Bernardes, no contexto do
ciclo que ficou conhecido como política "café com leite", em que
paulistas e mineiros se revezavam no governo do país.
Bernardes,
que logo no início de seu mandato em 1922 teve de enfrentar a Revolta do Forte
em Copacabana, na então capital do país, se deparava exatamente dois anos
depois com uma insurreição armada na capital paulista.
A revolta
de Copacabana ocorreu em 5 de julho de 1922 e foi desencadeada pela ala mais
jovem das Forças Armadas, que não concordava com o fechamento do Clube Militar
no Rio de Janeiro, realizado por meio de decreto presidencial. O movimento
durou dois dias e foi contido por uma forte repressão do governo Federal, que
bombardeou o Forte.
No
segundo aniversário da revolta, fiéis assistiam à missa matinal em homenagem às
vítimas do levante de 1922 no mosteiro São Bento, na região central da capital
paulista, quando uma das torres foi atingida por um disparo dos primeiros
disparos dos rebeldes.
Naquela
manhã, o quartel da Força Pública de São Paulo foi tomado e o comandante do 2º
Exército, deposto. Seguiram-se cinco dias de intenso tiroteio em São Paulo
entre as forças rebeldes e as tropas do governo até que no dia 9 de julho a cidade
foi tomada pelos revoltosos.
Os pontos
estratégicos de comando e entrada da cidade, o quartel da Força Pública e o
Palácio do governo foram tomados, o comandante militar teve de deixar a cidade
e o presidente do Estado (governador da época), Carlos de Campos, transferiu
seu governo para um vagão ferroviário junto à plataforma da estação de
Guaiaúna, nas proximidades da Penha, zona leste da cidade.
O
movimento agregava jovens militares que defendiam a moralização dos costumes
políticos, rejeitavam a ação política dos partidos e apoiavam a revolução como
a única maneira de promover uma mudança efetiva. O ataque foi planejado por
rebeldes que caíram na clandestinidade após a repressão à revolta do Forte de
Copacabana, como os tenentes Juarez Távora e Eduardo Gomes. A eles se juntaram
rebeldes de outras regiões, como João Francisco Pereira da Costa, conhecido
como a Hiena do Cati, um dos líderes da Revolução Federalista no Rio Grande do
Sul.
Repressão
No dia 9
de julho, o general revolucionário Isidoro Dias Lopes declarou a instalação de
um governo revolucionário e exigiu a renúncia do presidente da República, e
parte da população que apoiava o levante começou a realizar saques no comércio da
cidade.
Carlos de
Campos, que ainda despachava do vagão, ordenou um bombardeio sobre São Paulo,
justificando ao presidente que preferia “ver destruída a sua formosa capital do
que destruída a legalidade do Brasil”.
Pela
contagem oficial, o saldo da repressão às forças rebeldes foi de 5 mil feridos
e 500 mortos, mas agências internacionais estimam em 1000 mortos e 4000 feridos
o resultado da ação de 18 dias seguidos das tropas federais, com início no dia
11 de julho. O ataque partiu da zona leste, onde estavam as tropas leais ao
governo e atingiu principalmente os bairros residenciais na zona leste na
cidade, na Mooca, no Brás e no Belém.
A capital
paulista ficou ocupada durante 24 dias, até que no dia 28 de julho os rebeldes
decidiram recuar pela linha férrea em direção ao interior. Centenas de acusados
de ter apoiado o movimento foram presos e a revolta foi controlada na capital
paulista.
Terminado
o confronto em São Paulo, outros focos de revolta surgiram no país em Recife,
no Amazonas e posteriormente no Rio Grande do Sul, comandada por Antonio de
Siqueira Campos, um dos integrantes da revolta de Copacabana em 1922. Os
rebeldes que fugiram de São Paulo seguiram na direção da fronteira do Mato
Grosso, seguindo depois para o Paraná.
Coluna Prestes
Siqueira
Campos foi o elemento de ligação entre os revoltosos que fugiram da capital
paulista em direção ao Paraná e os líderes que articulavam a sublevação no Rio
Grande do Sul que tomou diversos municípios em outubro daquele ano.
Em Santo
Ângelo (RS), uma das cidades tomadas pelos revoltosos por meio do levante do 1º
Batalhão Ferroviário, o capitão responsável pela tomada do quartel se revelou
um líder natural e foi nomeado por Isidoro Dias Lopes, comandante da revolta em
São Paulo, como chefe da revolta no Sul e para isso recebeu um diploma que o
promovia de capitão a coronel das forças revolucionárias.
Luís
Carlos Prestes recebeu a missão de unir as tropas do Rio Grande do Sul com os
rebeldes que haviam deixado São Paulo e se encontravam no Paraná, formando
assim a Coluna Prestes. Partindo do município de Santo Ângelo, que hoje abriga
o Memorial da Coluna Prestes, o movimento percorreu vinte e cinco mil
quilômetros pelo interior do Brasil durante dois anos e meio e foi concluída em
fevereiro de 1927, na Bolívia.
0 Comentários