João Cândido, ao lado de um marinheiro, lendo o manifesto
dos revoltosos.
João Cândido e a Revolta da Chibata
No dia 22
de novembro de 1910, tiros de canhão abalaram a cidade do Rio de Janeiro.
Liderados por João Cândido Felisberto, conhecido como “Almirante Negro”,
marinheiros deram início à Revolta da Chibata, que reivindicava o fim dos
castigos físicos na Marinha.
A Revolta
contra os maus-tratos paralisou o coração do Brasil por quatro dias e custou a
vida de dezenas de pessoas, entre civis e militares. A punição pela chibata,
até então, era um hábito herdado da Marinha portuguesa. Os castigos tinham a
função de educar na marra os supostos maus elementos que compunham os quadros
inferiores.
Os
marinheiros não suportavam mais aquela situação e logo organizaram, sob a
liderança do “Almirante Negro”, a manifestação. Dezenas de oficiais foram
mortos, outros, detidos ou ainda desembarcados. Todo aquele que tentasse
impedir o levante ou não se apresentasse a favor era considerado inimigo e
tinha a embarcação tomada. Uma após outra, quase todas as embarcações foram
sendo assumidas pelos marujos, e João Cândido, juntamente com outros líderes,
assumiu o comando de toda a Armada. Pela primeira vez na história da humanidade
um marinheiro foi comandante de toda uma esquadra. E um marinheiro negro.
O
ministro da marinha e demais setores militares se opunham à rendição diante de
tripulações de marujos, majoritariamente, negros, analfabetos e descalços.
Contudo, não havia outra maneira. O governo então, cedeu, e afirmou aceitar as
condições da negociação e anistiar os participantes da revolta.
A anistia
não durou dois dias. Traídos, presos e torturados, os revoltosos foram expulsos
da Marinha. João Cândido, o líder da Revolta, foi um dos que mais sofreram
perseguições, vindo a morrer muito pobre e doente. A sua prisão na Ilha das
Cobras foi marcada por atrocidades e barbaridades. Após ser preso e torturado,
o “Almirante Negro” foi internado num manicômio. Nos anos seguintes, enfrentou
uma série de mazelas pessoais e familiares, sempre discriminado pela Marinha.
JOÃO CÂNDIDO – Durante a infância, João Cândido viveu em
Rio Pardo, no interior do Rio Grande do Sul. Filho de ex-escravizados, ele
deixa cedo a vida na fazenda e alista-se na Marinha. Ali, ganha experiência
viajando pelo Brasil e pelo mundo. Com bom trânsito entre os oficiais e
admirado pelos companheiros, o jovem acaba liderando uma das mais importantes
rebeliões populares do Brasil.
O
“Almirante Negro” chegou a levar fama de “perigoso”, no entanto pessoas que
acompanharam sua vida após o fim da revolta afirmam que sua postura não
condizia com isto. Mesmo assim, sua vida foi marcada pela perseguição política,
pela penúria e pelas tragédias pessoais.
Problemas
financeiros, a dura rotina de trabalho descarregando peixe durante a noite e de
madrugada, no entreposto da Praça XV, no Rio de Janeiro, as perdas trágicas da
mulher e da filha e as recaídas constantes da tuberculose mascaram os últimos
anos de vida de João Cândido.
O
“Almirante Negro” passou de marinheiro a trabalhador braçal, recluso e doente.
Teve a polícia em seu encalço até mesmo durante seu enterro. O líder da Revolta
da Chibata faleceu no Rio de Janeiro, em 1969, aos 89 anos.
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