ARTE
No Ensino Fundamental, o componente
curricular Arte está centrado nas seguintes linguagens: as Artes visuais,
a Dança, a Música e o Teatro. Essas
linguagens articulam saberes referentes a produtos e fenômenos artísticos e
envolvem as práticas de criar, ler, produzir, construir, exteriorizar e
refletir sobre formas artísticas. A sensibilidade, a intuição, o pensamento, as
emoções e as subjetividades se manifestam como formas de expressão no processo
de aprendizagem em Arte.
O componente curricular contribui, ainda,
para a interação crítica dos alunos com a complexidade do mundo, além de
favorecer o respeito às diferenças e o diálogo intercultural, pluriétnico e
plurilíngue, importantes para o exercício da cidadania. A Arte propicia a troca
entre culturas e favorece o reconhecimento de semelhanças e diferenças entre
elas.
Nesse sentido, as manifestações artísticas
não podem ser reduzidas às produções legitimadas pelas instituições culturais e
veiculadas pela mídia, tampouco a prática artística pode ser vista como mera
aquisição de códigos e técnicas. A aprendizagem de Arte precisa alcançar a
experiência e a vivência artísticas como prática social, permitindo que os
alunos sejam protagonistas e criadores.
A prática artística possibilita o
compartilhamento de saberes e de produções entre os alunos por meio de
exposições, saraus, espetáculos, performances, concertos, recitais,
intervenções e outras apresentações e eventos artísticos e culturais, na escola
ou em outros locais. Os processos de criação precisam ser compreendidos como
tão relevantes quanto os eventuais produtos. Além disso, o compartilhamento das
ações artísticas produzidas pelos alunos, em diálogo com seus professores, pode
acontecer não apenas em eventos específicos, mas ao longo do ano, sendo parte
de um trabalho em processo.
A prática investigativa constitui o modo
de produção e organização dos conhecimentos em Arte. É no percurso do fazer
artístico que os alunos criam, experimentam, desenvolvem e percebem uma poética
pessoal. Os conhecimentos, processos e técnicas produzidos e acumulados ao
longo do tempo em Artes visuais, Dança, Música e Teatro contribuem para a
contextualização dos saberes e das práticas artísticas. Eles possibilitam
compreender as relações entre tempos e contextos sociais dos sujeitos na sua
interação com a arte e a cultura.
A BNCC propõe que a abordagem das
linguagens articule seis dimensões do conhecimento que, de forma indissociável
e simultânea, caracterizam a singularidade da experiência artística. Tais dimensões
perpassam os conhecimentos das Artes visuais, da Dança, da Música e do Teatro e
as aprendizagens dos alunos em cada contexto social e cultural. Não se trata de
eixos temáticos ou categorias, mas de linhas maleáveis que se interpenetram,
constituindo a especificidade da construção do conhecimento em Arte na escola.
Não há nenhuma hierarquia entre essas dimensões, tampouco uma ordem para se
trabalhar com cada uma no campo pedagógico.
As dimensões são:
• Criação:
refere-se ao fazer artístico, quando os sujeitos criam, produzem e
constroem. Trata-se de uma atitude intencional e investigativa que confere
materialidade estética a sentimentos, ideias, desejos e representações em
processos, acontecimentos e produções artísticas individuais ou coletivas. Essa
dimensão trata do apreender o que está em jogo durante o fazer artístico, processo
permeado por tomadas de decisão, entraves, desafios, conflitos, negociações e
inquietações.
•
Crítica: refere-se às impressões que impulsionam os sujeitos em direção
a novas compreensões do espaço em que vivem, com base no estabelecimento de
relações, por meio do estudo e da pesquisa, entre as diversas experiências e
manifestações artísticas e culturais vividas e conhecidas. Essa dimensão
articula ação e pensamento propositivos, envolvendo aspectos estéticos,
políticos, históricos, filosóficos, sociais, econômicos e culturais.
•
Estesia: refere-se à experiência sensível dos sujeitos em relação
ao espaço, ao tempo, ao som, à ação, às imagens, ao próprio corpo e aos diferentes
materiais. Essa dimensão articula a sensibilidade e a percepção, tomadas como
forma de conhecer a si mesmo, o outro e o mundo. Nela, o corpo em sua
totalidade (emoção, percepção, intuição, sensibilidade e intelecto) é o
protagonista da experiência.
•
Expressão: refere-se às possibilidades de exteriorizar e manifestar as
criações subjetivas por meio de procedimentos artísticos, tanto em âmbito
individual quanto coletivo. Essa dimensão emerge da experiência artística com
os elementos constitutivos de cada linguagem, dos seus vocabulários específicos
e das suas materialidades.
•
Fruição: refere-se ao deleite, ao prazer, ao estranhamento e à abertura
para se sensibilizar durante a participação em práticas artísticas e culturais.
Essa dimensão implica disponibilidade dos sujeitos para a relação continuada
com produções artísticas e culturais oriundas das mais diversas épocas, lugares
e grupos sociais.
•
Reflexão: refere-se ao processo de construir argumentos e
ponderações sobre as fruições, as experiências e os processos criativos, artísticos
e culturais. É a atitude de perceber, analisar e interpretar as manifestações
artísticas e culturais, seja como criador, seja como leitor.
A referência a essas dimensões busca
facilitar o processo de ensino e aprendizagem em Arte, integrando os
conhecimentos do componente curricular. Uma vez que os conhecimentos e as
experiências artísticas são constituídos por materialidades verbais e não
verbais, sensíveis, corporais, visuais, plásticas e sonoras, é importante levar
em conta sua natureza vivencial, experiencial e subjetiva.
As Artes
visuais são os processos e produtos artísticos e culturais, nos diversos
tempos históricos e contextos sociais, que têm a expressão visual como elemento
de comunicação. Essas manifestações resultam de explorações plurais e
transformações de materiais, de recursos tecnológicos e de apropriações da
cultura cotidiana.
As Artes visuais possibilitam aos alunos
explorar múltiplas culturas visuais, dialogar com as diferenças e conhecer
outros espaços e possibilidades inventivas e expressivas, de modo a ampliar os
limites escolares e criar novas formas de interação artística e de produção cultural,
sejam elas concretas, sejam elas simbólicas.
A Dança se constitui como prática
artística pelo pensamento e sentimento do corpo, mediante a articulação dos
processos cognitivos e das experiências sensíveis implicados no movimento
dançado. Os processos de investigação e produção artística da dança centram-se
naquilo que ocorre no e pelo corpo, discutindo e significando relações entre
corporeidade e produção estética.
Ao articular os aspectos sensíveis,
epistemológicos e formais do movimento dançado ao seu próprio contexto, os
alunos problematizam e transformam percepções acerca do corpo e da dança, por
meio de arranjos que permitem novas visões de si e do mundo. Eles têm, assim, a
oportunidade de repensar dualidades e binômios (corpo versus mente, popular
versus erudito, teoria versus prática), em favor de um conjunto híbrido e
dinâmico de práticas.
A Música
é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham
forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto
das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos
estabelecidos no domínio de cada cultura.
A ampliação e a produção dos conhecimentos
musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e
criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da
cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música
inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais
para sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade.
O Teatro
instaura a experiência artística multissensorial de encontro com o outro em performance.
Nessa experiência, o corpo é lócus de criação ficcional de tempos, espaços e
sujeitos distintos de si próprios, por meio do verbal, não verbal e da ação
física. Os processos de criação teatral passam por situações de criação
coletiva e colaborativa, por intermédio de jogos, improvisações, atuações e
encenações, caracterizados pela interação entre atuantes e espectadores.
O fazer teatral possibilita a intensa
troca de experiências entre os alunos e aprimora a percepção estética, a
imaginação, a consciência corporal, a intuição, a memória, a reflexão e a
emoção.
Ainda que, na BNCC, as linguagens
artísticas das Artes visuais, da Dança, da Música e do Teatro sejam
consideradas em suas especificidades, as experiências e vivências dos sujeitos
em sua relação com a Arte não acontecem de forma compartimentada ou estanque. Assim,
é importante que o componente curricular Arte leve em conta o diálogo entre
essas linguagens, o diálogo com a literatura, além de possibilitar o contato e
a reflexão acerca das formas estéticas híbridas, tais como as artes circenses,
o cinema e a performance.
Atividades que facilitem um trânsito
criativo, fluido e desfragmentado entre as linguagens artísticas podem
construir uma rede de interlocução, inclusive, com a literatura e com outros
componentes curriculares. Temas, assuntos ou habilidades afins de diferentes
componentes podem compor projetos nos quais saberes se integrem, gerando
experiências de aprendizagem amplas e complexas.
Em síntese, o componente Arte no Ensino
Fundamental articula manifestações culturais de tempos e espaços diversos,
incluindo o entorno artístico dos alunos e as produções artísticas e culturais
que lhes são contemporâneas. Do ponto de vista histórico, social e político,
propicia a eles o entendimento dos costumes e dos valores constituintes das
culturas, manifestados em seus processos e produtos artísticos, o que contribui
para sua formação integral.
Ao longo do Ensino Fundamental, os alunos
devem expandir seu repertório e ampliar sua autonomia nas práticas artísticas,
por meio da reflexão sensível, imaginativa e crítica sobre os conteúdos
artísticos e seus elementos constitutivos e também sobre as experiências de
pesquisa, invenção e criação.
Para tanto, é preciso reconhecer a
diversidade de saberes, experiências e práticas artísticas como modos legítimos
de pensar, de experienciar e de fruir a Arte, o que coloca em evidência o
caráter social e político dessas práticas.
Na BNCC de Arte, cada uma das quatro
linguagens do componente curricular – Artes
visuais, Dança, Música e Teatro – constitui uma unidade temática que reúne objetos de
conhecimento e habilidades articulados às seis dimensões apresentadas
anteriormente. Além dessas, uma última unidade temática, Artes integradas, explora as relações e articulações entre as
diferentes linguagens e suas práticas, inclusive aquelas possibilitadas pelo
uso das novas tecnologias de informação e comunicação.
Nessas unidades, as habilidades são
organizadas em dois blocos (1º ao 5º ano e 6º ao 9º ano), com o intuito de
permitir que os sistemas e as redes de ensino, as escolas e os professores
organizem seus currículos e suas propostas pedagógicas com a devida adequação aos
seus contextos. A progressão das aprendizagens não está proposta de forma
linear, rígida ou cumulativa com relação a cada linguagem ou objeto de
conhecimento, mas propõe um movimento no qual cada nova experiência se
relaciona com as anteriores e as posteriores na aprendizagem de Arte.
Cumpre destacar que os critérios de
organização das habilidades na BNCC (com a explicitação dos objetos de
conhecimento aos quais se relacionam e do agrupamento desses objetos em
unidades temáticas) expressam um arranjo possível (dentre outros). Portanto, os
agrupamentos propostos não devem ser tomados como modelo obrigatório para o
desenho dos currículos.
Considerando esses pressupostos, e em
articulação com as competências gerais da Educação Básica e as competências
específicas da área de Linguagens, o componente curricular de Arte deve garantir
aos alunos o desenvolvimento de algumas competências
específicas.
1 Comentários
😊
ResponderExcluir